Jardim Conceição: da ocupação à luta por dignidade
No dia 26 de junho de 1987, ocorreu a primeira ocupação na área que viria a ser o Jardim Conceição, em Osasco.
Ao longo de seus 38 anos de existência, o bairro enfrentou inúmeros desafios e chegou a figurar entre os mais violentos do estado de São Paulo. Em 2003, uma pesquisa local apontou que mais de 60 jovens foram assassinados na região apenas naquele ano.
Diante desse cenário alarmante, organizações como a Associação Camila e o Centro Social Nossa Senhora das Graças, em parceria com lideranças locais e outros órgãos públicos e civis, atuaram firmemente na construção de alternativas à violência. Como resultado desses esforços, em 2008 não foi registrado nenhum homicídio no bairro — um marco importante na trajetória do Jardim Conceição.
A Associação Camila, em especial, vem atuando de forma assídua na promoção de políticas públicas e na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, incentivando uma cultura de paz e buscando constantemente melhorias na qualidade de vida da comunidade local.
A história dos moradores do Jardim Conceição se assemelha à de milhões de brasileiros que, com garra e esperança, lutam por um país mais justo. Essa história começou a se desenhar de forma concreta em 1987, quando famílias do Jardim São Vitor, em sua maioria migrantes nordestinos, ocuparam uma área abandonada que servia como depósito de entulho e, tragicamente, de cadáveres.
Com a intensa industrialização de São Paulo nas décadas de 1960 e 1970, um grande número de nordestinos migrou para a região metropolitana em busca de trabalho e moradia digna. Osasco foi um dos destinos dessa população, que passou a viver em casas alugadas ou cedidas por parentes. No Jardim São Vitor, muitas dessas famílias, com o apoio das comunidades eclesiais de base e de lideranças políticas locais, iniciaram um movimento por moradia, com o sonho de fundar uma vila operária.
Outras ocupações se seguiram: moradores ocuparam áreas no Jardim dos Trabalhadores e na região da Vila da Justiça, conhecida como “Buraco Quente”. A partir desta última ocupação, a Prefeitura de Osasco iniciou uma política de remanejamento de famílias de áreas nobres e insalubres para o Jardim Conceição. No entanto, esse processo não foi acompanhado por políticas públicas de urbanização e acolhimento social adequadas. Os moradores foram simplesmente despejados e esquecidos pelo poder público.
Com o tempo, o bairro passou a sofrer os efeitos do abandono estrutural: jovens e crianças passaram a se envolver com o tráfico de drogas, o que resultou em um número elevado de mortes e mergulhou as famílias em dor e medo.
Mesmo com tantas adversidades, o Jardim Conceição abriga jovens com talentos e potencialidades extraordinárias. No entanto, a falta de oportunidades, espaços seguros e políticas públicas voltadas à juventude tem deixado muitos desses jovens sem perspectivas. Nesse vácuo, o risco de envolvimento com situações de vulnerabilidade social aumenta.
Essa realidade evidencia a urgente necessidade de políticas públicas integradas e efetivas, que assegurem direitos, valorizem a vida e promovam a inclusão social da juventude, das famílias e de toda a comunidade do Jardim Conceição.